A Biblioteca da Escola Secundária de Sampaio quer, deste modo, assinalar o desaparecimento de um professor, figura incontornável que marcou muitos dos estudantes sesimbrenses: Manuel Nabais Antunes.

Reuniu alguns, poucos mas significativos, testemunhos da sua pessoa e da sua vida: os testemunhos do professor Mário de Figueiredo, antigo Presidente do Conselho Executivo da Escola Navegador Rodrigues Soromenho e primeiro Diretor do referido Agrupamento; do professor José Maldonado, Diretor do extinto Centro de Formação de Professores do Concelho de Sesimbra; Susana Pinhal, educadora e Professora Coordenadora das Bibliotecas do Agrupamento de Sampaio, sua ex-aluna; e também a homenagem da sua família no dia das suas exéquias.

Esta pequena e simbólica homenagem, em que professores falam de um Professor que contribuiu para o desenvolvimento educativo do concelho, pretende evitar o esquecimento e contribuir para a memória coletiva de toda uma comunidade.

Resta agradecer os textos enviados.

O Professor Nabais

Quem era o professor Manuel Nabais, que nos deixou, recentemente, e que tanto contribuiu para a formação de várias gerações de sesimbrenses?

Que papel teve na comunidade educativa de Sesimbra?

Contactei, pela primeira vez, com o professor Nabais, no ano letivo de 1984/85, quando iniciei a lecionação da disciplina de Educação Visual, no concelho de Sesimbra. Naquela época, para além do do 1.º ciclo, funcionavam na vila de Sesimbra dois polos escolares: o ensino preparatório, atual 5.º e 6.º anos, onde comecei a trabalhar e que funcionava nos pavilhões pré-fabricados, localizados no centro da vila, e o chamado ensino secundário, equivalente ao 3.º ciclo atual, a funcionar no ex-Externato de Sesimbra, mais conhecido por Colégio Costa Marques, onde trabalhava o professor Nabais.

Tendo também eu lecionado durante trinta oito anos em Sesimbra, evoco o professor Nabais como um dos mais experientes docentes do concelho e que, de alguma forma, me marcou. Lembro-o com saudade, admiração e amizade pessoal, bem como sendo uma referência e exemplo, no que diz respeito ao seu envolvimento profissional, manifestado na relação com a comunidade educativa e com a comunidade local.

O seu papel, no ensino local, foi longo e diversificado. Lecionou, a várias gerações de sesimbrenses, a disciplina de Português com grande cultura e saber, gostando sempre de trabalhar os conteúdos lecionados tendo por base as obras dos grandes autores clássicos portugueses, revelando uma apetência especial no relacionamento com os alunos e uma constante preocupação com as suas necessidades. Evidenciou também uma grande dedicação na área da Educação para Adultos, demonstrando uma enorme empatia e preocupação pela concretização dos percursos individuais dos alunos, desempenhando as funções de professor de várias disciplinas, no âmbito desta oferta educativa, bem como de coordenação da equipa docente do Ensino Noturno, na Escola Básica 2/3 de Sesimbra. No exercício destas funções, manteve uma posição de charneira nas dinâmicas desses grupos, fomentando um espírito franco e um salutar convívio.

Salientou-se, ainda, na participação em cargos de direção de alguns organismos escolares locais, realçando-se o facto de ter sido o primeiro Diretor do Centro de Formação das Escolas do Concelho de Sesimbra, entretanto extinto, sediado na Escola Secundária de Sampaio.

A nível de relacionamento profissional com os seus colegas, mostrava uma atitude acessível, amável e colaborante com os outros. Reconhecida a sua capacidade e deleite no domínio da palavra escrita, entre outras manifestações deste tipo, colaborou em jornais locais.

Recordá-lo é reconhecer a sua indelével ação educativa e o seu precioso contributo para a formação de inúmeros sesimbrenses!

Mário Figueiredo (13/11/2022)

Em 1993 foi sentida a necessidade de estabelecer o Centro de Formação de Professores do Concelho de Sesimbra. Para primeiro diretor deste centro foi convidado o prof. Manuel Nabais, pois que se tratava de uma personagem conhecida e admirada pela comunidade educativa e que foi uma escolha consensual pelas direções de todas as escolas do concelho.
Pessoalmente, para além de meu professor no Externato de Sesimbra, foi meu explicador de filosofia e um facto curioso aconteceu no decorrer destas «conversas» agradabilíssimas, cheguei a tirar-lhe algumas dúvidas sobre… matemática.

José Maldonado

Recordações de aluna

No bulício dos dias, sem contar as horas, o tempo vai passando. Quando nos apercebemos, já partiram pessoas que fazem parte da nossa história e têm cota parte da responsabilidade pelo que hoje somos.

Em 1980, conheci o professor Nabais enquanto professor de português do 6.º e 7.º anos do liceu no ensino noturno, nas instalações do antigo Ciclo Preparatório em Sesimbra. 

Figura robusta, de ar tranquilo subia a escada sem pressa até ao último pavilhão. 

 A sua pasta abria-se sobre a mesa de onde saía o seu material de trabalho: um livro.

Nem sempre o mesmo.

Nas noites silenciosas de inverno, os meus serões completavam-se quando o livro se abria e a sua voz ouvia-se:

«Vamos abrir o livro no segundo capítulo. Pode começar a ler a menina!»

Recordo-me como as palavras de Eça ecoavam pela sala e eu, alta nos meus 16 anos, entrava nas carruagens conduzida pelas ruas de Lisboa e sentava-me nas mesas de iguarias, conversando com João da Ega e Carlos da Maia.

Era um grande sábio, o professor Nabais, e atento à realidade dos seus alunos.

A maioria dos estudantes noturnos eram trabalhadores e a melhor forma de dar a conhecer as obras e de nos preparar para os exames que faríamos no Liceu Nacional de Setúbal era esta.

À noite, conheci e li integralmente muitas obras de autores portugueses nestas aulas de português que passavam num ápice. A queda de um anjo, Os Lusíadas, Os Maias, A Cidade e as Serras, Amor de perdição, Viagens na minha terra foram alguns dos livros que li em voz alta e acompanhei em agradado silêncio.

Obrigada ao professor Manuel Nabais Antunes, que me tornou leitora compulsiva aos 16 anos e amante de histórias para a vida.

Susana Pinhal (Professora Bibliotecária)

Texto de seu filho Nuno na cerimónia de corpo presente:

HOMENAGEM FÚNEBRE A MANUEL NABAIS

Breves palavras neste momento da partida terrena do professor Nabais… de Sesimbra, como gostava de acrescentar.

Primeiro: em nome da família, agradecer a presença de todos vós.

A vida do nosso pai, julgamos — e considero que todos vós o partilham — foi uma vida plena, sobretudo porque foi uma vida HUMANA, ou seja, uma vida que teve sempre como centro o HUMANO e a dignidade do ser…. HUMANO.

O amor, a generosidade e a dedicação foram, entre outras, expressões maiores deste ser HUMANO…

O amor incondicional pelo seu amigo J.C. (Jesus Cristo) esteve sempre presente em todos os atos da sua vida, e a todos dirigido (à família, aos amigos, aos alunos, à terra, etc.), e nunca deixou de o iluminar, mesmo nos momentos difíceis que atravessou e nos obstáculos que, há mais de meio século, qualquer um consideraria inultrapassáveis.

A generosidade que se traduzia em estar sempre, desinteressadamente, disponível para ouvir, orientar, ajudar, não apenas quem o procurava, mas também procurando ele quem necessitasse de um gesto de ânimo, conforto ou esperança.

Por último a dedicação. O nosso pai viveu sempre para e em função do outro: esposa, companheira, filhos, noras, netos, bisnetos, amigos, alunos (nunca ex-alunos: os seus alunos eram-no para sempre…), escola, vizinhos, comunidade sesimbrense — jornal, rádio, Associação dos Socorros Mútuos, Santa Casa da Misericórdia, entre outras instituições — e no que quer que se envolvesse fazia-o com paixão… dedicação…

Obrigado por estarem presentes nesta celebração de humanidade!

Sejamos HUMANOS! É só o que o mundo precisa!

A família Nabais

Dezembro 2022, enviado pela Prof.ª Isabel Gouveia, Professora Bibliotecária da Biblioteca de Sampaio

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