Alberto Caeiro e Quint Buchholz LOOKaes 12 de Novembro, 2022 LOOKaes «Porque eu sou do tamanho do que vejo», de Alberto CaeiroHomem numa Escada, de Quint Buchholz Há imagens que, não tendo sido concebidas para o efeito, poderiam ser ilustrações sugestivas de textos literários. Os versos de Alberto Caeiro transcritos em cima encontram uma tradução literal na pintura de Quint Buchholz apresentada. A sobrevalorização do «ver» e do «sentir», comparada com a importância dada ao pensamento, está presente não só no poema, mas também no quadro, que ganham uma nova dimensão, quando apreciados em conjunto. Na obra Homem numa Escada, uma figura masculina surge dentro de um livro no cimo de uma escada, a tentar ver aquilo que está para além da sua casa. Contudo, este homem não se contenta em permanecer no interior do livro, ele transcende-o, saindo fora das páginas para conseguir observar o mundo. Alberto Caeiro escreveu: «Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não do tamanho da minha altura…», ou seja, para ele, o importante não era a sua estatura real, mas aquilo que o seu «eu» lhe permitia alcançar, através da visão. O poeta bucólico atribui uma maior relevância à forma como vê, como sente, mas, sobretudo, à dimensão daquilo que consegue observar. Caeiro não considera, desta forma, as suas características físicas suficientes para determinar a sua altura, sobrevalorizando, assim, a quantidade de mundo que consegue ver. Na pintura, o sujeito poético acaba a ser representado pelo homem, que, tal como o primeiro, não se importa muito com os centímetros que tem, recorrendo a uma escada para conseguir ver mais do que aquilo que seria capaz, de modo a ampliar a dimensão daquilo que vê. No quadro de Quint Buchholz, o fundo divide-se em três cores, sendo estas observadas pela figura humana, que contempla, assim, a natureza, ou aquilo que poderá ser também o mar. Tanto o sujeito poético do poema VII de O Guardador de Rebanhos como o homem da escada consideram que aquilo que vemos, os horizontes que quebramos são os aspetos que definem o nosso tamanho. A poesia de Alberto Caeiro é caracterizada pelo sensacionismo. Na obra de Quint Buchholz encontramos correspondência com esse princípio, pois ambos os autores exaltam o ato de «ver» e «sentir», valorizando aquilo que observamos em detrimento daquilo que pensamos. O livro representado na pintura poderá simbolizar precisamente o ato reflexivo. O indivíduo sobe para além das páginas, porque não quer ficar preso aos pensamentos que se transformam em livro. Tanto o «eu» lírico como o homem do universo de Quint Buchholz veem nos mundos que conhecem, através da observação, aquilo que os enriquece, que os torna mais «altos», mesmo continuando a ter os mesmos centímetros. A poética do «mestre» de Fernando Pessoa postula o primado das emoções/sensações. Os versos em questão enquadram-se nesse princípio, na medida em que o sujeito poético enfatiza a importância daquilo que vê para a sua definição enquanto pessoa. O quadro já referido reflete todas estas ideias, o indivíduo da pintura confunde-se com o sujeito poético. Os dois não se prendem à realidade, procuram dobrar o horizonte numa tentativa de superarem aquilo que são. Novembro 2022, texto elaborado pelo aluno João Pinhal, do 12.º F Por favor deixe este campo em branco Não perca as últimas... Endereço de email * Verifique a sua caixa de correio ou a pasta de Spam para confirmar a sua subscrição. Post Views: 91 Leave a Reply Cancel ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Sim, adicionem-me à lista. Δ