Sempre na mira de melhorar a expressão escrita, as aulas de Português promovem regularmente a realização de vários trabalhos, desde a escrita colaborativa à reescrita ou à reformulação de narrativas. O presente trabalho consistiu em continuar uma história tendo como ponto de partida o início de um conto de Italo Calvino. A tarefa iniciou-se a pares, numa aula de turnos, seguida de uma finalização individual. Foi este o desafio colocado aos alunos das turmas 8.ºA, 9.ºB, 9.ºD e 9.ºE. Eis alguns dos bons resultados deste “Quem conta um conto…”.

“Manhã cedo, ainda os dois irmãos dormiam de cara enterrada na almofada e já se ouvem os passos ferrados do pai a girar pela casa. O pai quando se levanta faz muito barulho, talvez de propósito, e arranja maneira de subir e descer as escadas umas vinte vezes, todas escusadas.” (Italo Calvino, “Os filhos madraços”, Adaptação)

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“Manhã cedo, ainda os dois irmãos dormiam de cara enterrada na almofada e já se ouvem os passos ferrados do pai a irar pela casa. O pai quando se levanta faz muito barulho, talvez de propósito, e arranja sempre maneira de subir e descer as escadas umas vinte vezes todas escusadas.”

Era este o grande início das aventuras dos dois irmãos. Eles gostavam de acreditar que as largas e ruidosas passadas do pai era para os acordar serviam para os incentivar a viver mais uma aventura. Inseparáveis, traquinas e brincalhões, era a sua melhor descrição. Pode-se dizer que tiveram a melhor infância que alguém poderia ter.

O tempo passou e a escola ocupou o tempo das brincadeiras no jardim, os estudos substituíram os passeios no lago, onde recordavam as melhores memórias vividas com a mãe, mas as aventuras da infância não morriam tão facilmente. O irmão mais velho, o Duarte, passava muito tempo a estudar, era aplicado e preocupava-se com o seu futuro, já Artur era diferente. Um ano mais novo que Duarte, tinha boas notas mas não eram tão boas quanto as do irmão, ao contrário dele não sabia o que havia de fazer quanto ao seu futuro e apenas se limitou a seguir os passos do irmão. Ao longo dos anos de estudo, Duarte viu que o irmão se dedicava menos aos estudos e mais ao desporto, tinha de admitir, o irmão era um excelente atleta e, apesar de ganhar todas as provas de atletismo da escola, Duarte continuava convencido de que Artur não teria futuro com o atletismo.

Os anos passaram-se e os irmãos já tinham dezanove e vinte anos. Duarte tinha várias portas abertas no seu futuro, enquanto Artur apenas tinha o atletismo e a escola…

Certo dia, o dia glorioso de Artur, o atleta regressou a casa depois de um longo dia, de medalha ao peito após uma das corridas em que participara, a nível nacional. Nada poderia estragar aquele momento até que, ao avistar a sua casa do outro lado da estrada, se deparou com uma ambulância. Atravessou a estrada, entrou em casa empurrando tudo o que se atravessava no seu caminho. Encontrou o irmão sentado, de mãos na cabeça, e a falar com um médico.

Os meses que se seguiram foram dolorosos devido à morte inesperada do pai. Artur já não se preocupava de todo com os estudos, estava apenas focado no atletismo e desperdiçou todas as ajudas que o irmão lhe deu nos estudos. Agora era normal os dois irmãos discutirem, discutiam bastante mas, numa noite, a discussão foi longe de mais. Duarte já com os cabelos em pé e o rosto vermelho de raiva explodira, não aguentava mais e disse tudo o que de mal pensava do irmão, os estudos desperdiçados, o trabalho que ele tivera para os sustentar e ainda as oportunidades para que pudesse ter um futuro melhor do que andar a correr de um lado para o outro. Artur estava tão chateado quanto ele, apesar de tudo o que Duarte lhe dissera, não respondeu. Foi até seu quarto e minutos depois saiu de lá com uma mochila e um saco na mão. Desceu as escadas, atravessou o corredor e a sala onde ainda se encontrava Duarte, a ferver de raiva, e saiu de casa. Duarte não o tentou impedir e só quando se deitou, refletiu sobre o que se tinha passado. No dia seguinte, quando Duarte regressou a casa depois de mais um longo e cansativo dia, reparou que as coisas do irmão tinham desaparecido, o seu quarto estava vazio, as medalhas e troféus já não se encontravam nas prateleiras da sala e a uma das mais belas fotografias da mãe e do pai tinha desaparecido. Artur tinha-se mudado depois da explosiva noite. Agora, Duarte estava sozinho, apenas acompanhado por fotografias que mantinham vivas as memórias.

Oito anos passaram. Oito longos anos sem nenhum dos dois irmãos saber algo do outro. Como sempre o inesperado acontece apesar de se achar que acontece apenas aos outros, mas desta vez foi a vez deles. Artur recebe uma carta de uma senhora que lhe conta o estado de saúde do irmão e suplicava-lhe que se encontrasse com o irmão na sua antiga casa para que pudessem resolver os velhos assuntos e fazer as pazes. Sem saber bem o que realmente havia de fazer, Artur decidiu encontrar-se com Duarte, afinal era seu irmão e mais tarde ou mais cedo alguém teria que pôr fim àquela distância. Artur, ao chegar à sua antiga casa, é recebido por uma senhora loira, elegante e com uma expressão feliz, era a esposa do irmão. Duarte apercebeu-se da presença de um convidado e ficou perplexo ao perceber que se tratava de Artur. A esposa encaminhou as suas duas lindas pequenas filhas para o quarto, para que os dois irmãos pudessem falar à vontade. Os dois conversaram durante muito tempo quebrando a barreira criada há alguns anos. Duarte contou ao irmão sobre o seu problema de coração e, tal como o pai, ele tinha um coração fraco que não lhe daria muito mais tempo de vida. Até àquela altura ainda não havia nenhum coração compatível com o seu, por isso teriam de esperar. Os dias seguintes foram uma alegria para Artur, Duarte e a sua família. Finalmente os dois irmãos davam-se bem e levaram a família aos lugares que marcavam a sua infância, ensinando e contando as suas aventuras às pequenas filhas de Duarte.

Tudo parecia perfeito de novo. Até que o momento tinha chegado. Numa bela tarde, enquanto Duarte ensinava às filhas a jogar futebol tal como pai lhe ensinara, recebeu uma chamada do hospital. Tinham ligado a informar que tinham encontrado um coração compatível e que ele deveria dirigir-se ao hospital para o transplante. Chegados ao hospital depois de uma grande correria até lá, Duarte despediu-se apressadamente e depois dirigiu-se para o bloco operatório. Sentia-se nervoso mas as belas memórias que passara com a família, especialmente as passadas nas duas últimas semanas, ajudaram-no a relaxar. Horas depois do transplante, Duarte finalmente acordou. Estava rodeado pela família que lhe deu apoio e ficou a animá-lo até a hora das visitas terminar. Anunciado o final da hora das visitas, Duarte ficou triste pelo irmão não o ter visitado mas todos esses pensamentos tristes foram afastados pela entrada da enfermeira que lhe entregou um envelope. Era um envelope mais pesado do que ele aparentava ser. Assim que a enfermeira saiu do quarto, Duarte abriu o envelope, era uma carta do irmão.

“Querido Duarte,

Espero que me perdoes. Que me perdoes por muitas coisas, por te ter partido a cabeça quando éramos pequenos, por ter saído de casa e desperdiçar a ajuda que me deste com os estudos, depois do pai morrer, por não estar presente neste momento e pelo motivo de não estar presente. Não havia nenhum coração que fosse compatível e não podia deixar que a tua família te visse morrer. Espero que não fiques zangado com o que fiz mas não havia outra opção, pelo menos para mim. Sei que mereces um coração. A mim de pouco serve, pois eu não sei fazer nada da vida e fui tão rude para ti. Espero que isto remedeie todos os anos que perdemos ao estarmos afastados. Sê o homem que eu, o pai e a mãe sempre soubemos que irias ser, tens toda uma vida à tua frente. Mandarei cumprimentos teus à mãe e ao pai que me devem esperar. Deixei algo dentro do envelope para que te lembres de mim e das nossas aventuras, para que essas memórias não morram comigo.

Até um dia.

Artur”     

Duarte largou a carta do irmão no colo com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. Depois de um longo momento de tristeza e sofrimento, Duarte ganhou forças para abrir de novo o envelope onde encontrou alguns DVD que mais tarde, depois de sair do hospital, ficou a saber que se continham os mais belos momentos da sua infância. Deste modo a sua infância e o seu irmão ficaram imortalizados.

Daniela Meira, 9ºE, 2018-19

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Manhã cedo, ainda os dois irmãos dormiam de cara enterrada na almofada e já se ouvem os passos ferrados do pai a girar pela casa. O pai quando se levanta faz muito barulho, talvez de propósito, e arranja maneira de subir e descer as escadas umas vinte vezes, todas escusadas.” Mas desta vez algo o preocupava: ouviam-se cada vez mais rumores sobre possíveis bombardeamentos na Alemanha. A guerra estava prestes a começar.O pânico instalava-se aos poucos em cada cantinho do país. O futuro era incerto. De repente ouviu-se o barulho de vários aviões, uma explosão fez estremecer a casa, estavam a ser atacados pelas tropas inimigas.

O pai chamou os filhos e apressou-os para que abandonassem a casa em direção de um abrigo, pois corriam perigo de vida. Durante o trajeto até ao abrigo avistaram um quadro de destruição: pessoas feridas, outras mortas, prédios destruídos, era um autêntico filme de terror. O abrigo situava-se a pouco mais de 500 metros, era um bunker construído há pouco tempo, porque já se adivinhava que um dia a guerra poderia acontecer.

Os aviões continuavam a sobrevoar a cidade, eles estavam prestes a chegar ao bunker, quando de repente, cai uma bomba mesmo onde eles se encontravam. A morte chegou naquele momento, os corpos ficaram irreconhecíveis. Terminava de uma maneira trágica a vida desta família, com a salvação ali tão perto.

Juliana Panão, 9ºB, 2018-19

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“Manhã cedo, ainda os dois irmãos dormiam de cara enterrada na almofada e já se ouvem os passos ferrados do pai a girar pela casa. O pai quando se levanta faz muito barulho, talvez de propósito, e arranja maneira de subir e descer as escadas umas vinte vezes, todas escusadas.”

 Um dos irmãos, o Rafael, dava voltas e voltas na cama, já enervado com a situação levanta-se e caminha até à porta entreabrindo-a. Quando a abre olha para o relógio pendurado na parede e repara que já são 9:00. Perplexo com a hora, tenta arrancar o irmão da cama, mas em vão. O pai desce mais uma vez e começa aos berros a dizer que têm de se despachar pois está atrasado para uma reunião muito importante. A mãe, ainda despenteada, arranja o pequeno-almoço ao mesmo tempo que arruma a comida na mala da escola. Toda a casa estava em alvoroço e ninguém se orientava. Ainda no quarto, os irmãos arranjavam-se, um mais apressado que o outro. O Rafael olha para a janela e repara que num cartaz pendurado na árvore oposta à casa com o seguinte enunciado “Pedimos a todos os moradores desta rua que aguardem até às 10h, por motivo de obras”. Ao ler aquilo, o Rafael solta quase uma asneira e corre até junto dos pais transmitindo a notícia, o pai fica furioso e a mãe tenta acalmá-lo mas sem sucesso. A diretora da escola liga e já se temia o pior, pois o André, o irmão do Rafael, tinha um teste e tinha faltado. A mãe explicou-lhe o sucedido e a diretora disse que ia precisar que ela comparecesse na direção. O pai recebe um telefonema  a dizer que a reunião foi desmarcada e perdeu o negócio, o Rafael perde o autocarro e o André perde o teste.

Resumindo o dia desta família foi destinado ao fracasso.

Joana Lourenço, 9ºB, 2018-19

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 “Manhã cedo ainda os dois irmãos dormiam de cara enterrada na almofada e já se ouvem os passos ferrados do pai a gritar pela casa. O pai quando se levanta faz muito barulho, talvez de prepósito, e arranja maneira de subir e descer as escadas umas vinte vezes, todas escusadas.”

Um dos filhos acordou e desceu as escadas. O pai, Alfredo, quando o viu, começou a reclamar com ele como se a culpa fosse dele. O pai já estava atrasado para ir trabalhar e um dos filhos ainda dormia. O filho mais velho que foi o que desceu as escadas primeiro, foi ao quarto do seu irmão Manuel e disse-lhe que o pai tinha de ir trabalhar. Quando chegou a hora do seu pai ir trabalhar, só levou um dos filhos à escola. Passado um bom bocado do João ter chegado à escola, os amigos do seu irmão Manuel foram ter com ele e perguntaram-lhe o porquê do Manuel não estar na escola. João vira-se para os amigos do Manuel e diz que seu irmão estava a dormir e quando ele o foi chamar não acordou.

Eram 16:00h, o pai sai do trabalho e vai para casa, quando chega vai ao quarto de Manuel, ele ainda estava a dormir. O pai muito preocupado tentou acordar Manuel, que estava muito tonto, maldisposto. O pai ligou à mãe e levou o filho ao hospital. A mãe saiu do trabalho mais cedo, foi buscar o João e foram ter com o pai e o Manuel. Felizmente não passava de uma gripe.

Saíram do hospital e quando chegaram a casa o Manuel foi-se logo deitar. O João foi ao quarto do Manuel e sussurrou-lhe ao ouvido que ele ia melhorar rápido e gostava muito dele.

Alguns dias depois o Manuel melhorou e já ia para a escola com o pai e o irmão. A vida retomou a normalidade.

Susana Narciso, 9ºB, 2018-19

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